Parentalidade ativa: o que é e quais os benefícios para pessoas e empresas

31/07/2024

Você já parou para pensar em como a criação e o cuidado com crianças é diferente para homens e mulheres? Quando falamos em parentalidade, as mulheres ainda precisam lidar com o viés da maternidade, que coloca barreiras para que elas avancem na carreira.

Já os homens têm o bônus da paternidade, que os ajuda a avançarem profissionalmente. Nos últimos anos tem ganhado força o debate sobre uma parentalidade ativa e que preze por equidade de gênero, em casa e nos ambientes corporativos.

Mas qual é essa parentalidade que queremos cultivar para um mundo mais inclusivo? A seguir vamos contar para você mais sobre esse conceito, o que está por trás dele e como as empresas têm enxergando essa discussão.

A parentalidade que conhecemos precisa mudar

Ser mãe e ser pai ainda hoje são coisas completamente diferentes. Não apenas porque cada figura de cuidado representa algo distinto para a criança, mas porque existem dois pesos e duas medidas para o que se espera desses papeis. 

Vamos refletir um pouco sobre esse desequilíbrio de responsabilidades? No vídeo a seguir, a pessoa entrevistadora faz perguntas simples para pais sobre seus filhos e filhas e as respostas, infelizmente, não surpreendem.

Ainda existe a crença de que os homens são provedores, que levam o ganha-pão para casa, e as mulheres são responsáveis pela reprodução e cuidado da família.

Essa discrepância entre como a parentalidade é vista para homens e mulheres é prejudicial para todas as partes envolvidas e leva a cenas como as que vimos no vídeo. Pais que não sabem aniversários ou sequer a cor dos olhos de suas crianças.

É normal mesmo que homens não saibam coisas básicas sobre seus filhos e filhas e, ainda assim, se considerem presentes? Quantas vezes você vê crianças acompanhadas somente do pai em consultas médicas? E na hora de comprar roupas novas e comparecer a reuniões escolares?

Todas essas coisas fazem parte de um trabalho não remunerado que as mulheres executam e que ainda é considerado apenas responsabilidade delas.

Apesar disso, temos percebido mudanças na sociedade e também nas empresas, que passaram a ver como uma parentalidade ativa e com equidade é algo positivo para todas as pessoas.

O que é a parentalidade ativa?

Parentalidade ativa envolve mais do que simplesmente estar presente fisicamente. Com certeza muitos pais acreditam que são presentes e ativos somente por registrarem suas crianças e viverem na mesma casa. Mas é preciso mais do que isso.

Trata-se de um engajamento emocional e intelectual com os filhos e filhas, participando ativamente de suas vidas diárias e apoiando seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo.

Esse tipo de parentalidade é fundamental para que as futuras gerações cresçam de maneira saudável e reproduzindo cada vez menos preconceitos.

Exercer a parentalidade ativa significa participar constantemente na vida das crianças. Isso significa muito mais do que o suporte financeiro e de necessidades básicas.

A parentalidade ativa passa por ajudar com os deveres de casa e chega até à discussão de questões importantes, como respeito, empatia e justiça social. É um compromisso contínuo de estar disponível, praticar escuta ativa e fornecer orientação quando necessário.


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Qual é o preço de ter filhos numa cultura que não valoriza o cuidado?

Quando falamos de parentalidade ativa, é importante olhar para o contexto do Brasil. Ficamos em 15º lugar entre os 16 países avaliados em um estudo inédito da Nestlé que mediu o Índice Global de Parentalidade.

No Brasil, as mulheres dedicam até 25 horas por semana a afazeres domésticos e cuidados, enquanto os homens dedicam cerca de 11 horas, segundo estudo da FGV.

O mais impressionante: embora o trabalho não remunerado das mulheres seja necessário para o bom funcionamento das famílias, ele não tem influência no PIB do país ou em outras medidas de crescimento econômico.

Aqui no Brasil, a economia doméstica e de cuidado acrescentaria 13% ao PIB do país, segundo um estudo do FGV IBRE.

Mulheres negras estão na base dessa pirâmide

Elas são as principais responsáveis pelo trabalho reprodutivo e/ou trabalho de cuidado. 68% das famílias cadastradas no bolsa família têm mulheres negras como titulares, segundo dados da FGV. 

Mulheres negras claramente se encontram num local de vulnerabilidade quando comparadas a mulheres brancas, os dados apontam isso.

  • 90% das novas mães solo são negras (FGV 2023);
  • 47,8% das mulheres negras do Brasil têm trabalhos informais (IBGE);
  • 64% dos lares chefiados por mulheres negras no Brasil estão abaixo da linha da pobreza (Gênero e Número).

O que as empresas tem a ver com isso?

As desigualdades na forma como a parentalidade ainda é vista socialmente não trazem vantagens para nenhuma das partes envolvidas.

Pais perdem a oportunidade de criar vínculos com seus filhos, mulheres ficam exaustas e não atingem sua potencialidade no trabalho.

Ao não considerar a parentalidade ativa uma vantagem, as empresas perdem profissionais com habilidades únicas, lucram menos e mancham sua reputação. As empresas têm um papel fundamental nessa transformação.

Quando a gente fala de uma parentalidade ativa, na qual os homens participem tanto quanto as mulheres no cuidado com os filhos, são diversos os benefícios.

Eles existem não só para as famílias, mas se estendem também para as empresas que contratam esses profissionais.

Para pais e crianças, a construção de um vínculo forte de amor, apego e proximidade emocional é uma das grandes vantagens da parentalidade ativa. 

O homem se torna presente nos cuidados diários e se envolve em todos os momentos de desenvolvimento da criança, o que promove uma criação saudável de pessoas que em breve serão o nosso futuro.

O impacto no ambiente corporativo também existe. Quando se investe na parentalidade ativa para os homens, há um movimento para superar barreiras e vieses de maternidade no ciclo de gestão de pessoas.

Além disso, a empresa se torna um espaço que fomenta a equidade de gênero, ajudando na igualdade de condições de carreira entre homens e mulheres. Há também um impacto significativo na satisfação e no engajamento da pessoa empregada.

Exemplos que inspiram a olhar para o futuro

Recentemente criou-se o movimento #5diasÉpouco, encabeçado pela CoPai — Coalizão Licença Paternidade, que trabalha ativamente para que a licença parental seja maior por padrão.

Mesmo que desde 2016 as empresas no Brasil possam aderir ao programa Empresa Cidadã e estenderem suas licenças para 20 dias para pais e 180 dias para as mães em troca de incentivos fiscais, ainda não é uma prática amplamente realizada.

Ainda assim, algumas organizações já se tornaram referência quando o assunto são as políticas de parentalidade ativa.

A Natura tem 40 dias de licença-paternidade e seu diretor de remuneração e reconhecimento da empresa sinalizou o quanto esse benefício é importante para a empresa em termos de cultura, diferenciação no mercado e até emprenho das pessoas colaboradoras.

Já no Spotify, a licença é até 6 meses no mundo inteiro, estendendo o benefício também a pais e mães adotivos. Esses meses podem ser utilizados durante os 3 primeiros anos de vida da criança e são combinados com um retorno progressivo ao trabalho, com a possibilidade de home office, meio período e horários flexíveis.

Outra prática empresarial que merece destaque é a do Grupo Boticário. A empresa tem um Grupo de Gestantes em que gestantes, mães e pais recentes compartilhem suas experiências. Além disso, a organização também oferece uma licença de 120 dias e 100% remunerada para pessoas que fazem parte do cuidado com crianças (homens – cis ou trans), casais homoafetivos e pessoas que adotaram.


Adotar uma abordagem de parentalidade ativa é investir no futuro. Estamos moldando as próximas gerações para serem mais conscientes, empáticas e justas. 

Ao fazer isso, não estamos apenas criando filhos e filhas; estamos criando cidadãos e cidadãs que contribuirão positivamente para a sociedade.

A mudança começa em casa. Ao incorporarmos práticas de parentalidade ativa, estamos construindo um futuro onde a diversidade é celebrada, a inclusão é a norma e a equidade de gênero é uma realidade. E você, como está praticando a parentalidade ativa?


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